quinta-feira

Arrastão por encomenda?


Cerca de mês e meio depois do chamado «arrastão», apareceu recentemente uma nova versão policial dos acontecimentos. Versão essa cheia de contradições e sem resposta quanto à grande mentira do 10 de Junho. Em vez de um grupo organizado de 500 assaltantes, falam agora de cerca de 30 indivíduos actuando de forma não concertada. Em vez de roubos e agressões violentas (até se falou em armas brancas), falam agora de incivilidades (e que incivilidades essas! Música alta, dança, jogos de bola, linguagem grosseira, insultos, desafios verbais, atitudes intimidatórias...). Em vez de arrastão pela praia, reconhecem agora que as pessoas que se vêm nas fotografias a correr estão a fugir de uma violenta carga policial. O relatório tenta resolver as contradições que entretanto apareceram entre a realidade e a anterior versão da polícia e de alguma comunicação social. Mas isso não passa de um malabarismo falhado de juntar factos com ficção, e acaba num meio-termo sem qualquer consistência. Questionamos: Porque é que isso tudo acontece no dia 10 de Junho? Quem é que coloca o termo arrastão no comunicado policial? Em que base de cálculo se fala de 500 criminosos (que agora já passam a 30 indivíduos a participar em «incivilidades», e amanha são 2 ou 3)? Será que ser negro na praia já é incivilidade? Como é que o tal comunicado cheio de erros e de aproximações aparece instantaneamente na imprensa? Quem é que «faz pressão» sobre a polícia? Afinal quem usufrui desta ficção? Não podemos deixar de exigir responsabilidades quanto ao clima racista, xenófobo e alarmista criado a partir deste episódio. Responsabilidades essas que devem ser esclarecidas totalmente: desde a imprensa em busca de sensacionalismo, passando por uma polícia nadando em contradições, até aos políticos populistas. Todos tentando fazer esquecer os problemas reais do pais, escondendo a sua incapacidade para os resolver.